Ouvi falar levemente sobre
"Amor Livre" e "Poliamor". Assisti à um documentário no
youtube sobre o assunto e então entendi o que se pratica, em tese, aqui no
Brasil em relação à esses temas. A maior parte das pessoas que falaram, e nas
coisas que li pela rede, enfatizavam a não "prisão" de uma relação
nos moldes que ainda são vigentes atualmente. Dito de outra maneira, a
principio a monogamia é desprezada, e me perdoem os ativistas da causa, na cara
de um deles sempre é perceptível um traço ainda que mínimo de insatisfação.
Ok. Dito isso, sigamos.
Hoje, assisti pela quinta
vez o filme Her, protagonizado por Joaquin Phoenix, que, enquanto Theodore
Twombly, acaba comprando um novo O.S. para sua interface digital e, frente à
conduta e comportamento humanos do sistema, acaba se apaixonando por ela, seu
O.S. que recebe a instrução de reproduzir uma voz feminina. Eles estão numa
relação "estável". Ela é nova no mercado e provavelmente tinha
acabado de ter sido inventada. Ela, o O.S. chamado por ela mesma de Samantha,
está crescendo e aprendendo em velocidades e volumes humanamente difíceis de
serem apreendidos. Num dos últimos desfechos da história ela conhece um
filósofo (sua simulação neural já que ele está morto) e começa a conversar com
ele sobre seus novos sentimentos, tais que ela não encontra palavras para
descreve-los. No gancho da possibilidade de interação com outros sistemas
on-line, ela já confusa e transtornada acaba confessando que ao mesmo tempo que
falava com ele, tambem conversava com mais de 8 mil pessoas.. e disse que não
pode evitar, que simplesmente aconteceu. Na minha leitura, o sistema de
Samantha é algo parecido com qualquer assistente pessoal encontrado atualmente.
não existe ainda um único sistema para cada pessoa e sim um computador central
que dispara comandos aos dispositivos tal qual o faz a Cortana, a Siri e o
Google Now.
Theodore tem um
"ataque" de ciúmes frente à confusão sentimental provocada pela
consciência de que a Samantha, o O.S. que ele pensava ser apenas
"dele" era na verdade e também de todas as pessoas que o havia
comprado. Pior (ou melhor, para entender a origem da confusão): "ela"
está apaixonada e amando a todos com os quais ela conversa! E ainda complementa
que isso não muda o que ela sente pelo Theodore. Ele continua transtornado e
reafirma não entender, dizendo que isso é uma completa loucura.
"Ela" tenta se
justificar dizendo que ele não precisa se sentir desse jeito (puto, diga-se) e
tenta remediar:
no tempo de filme: 1:47':13"
Theodore: Don't turn it
arround me... We were in a relationship!
Samantha: But the heart's
not like a box that gets filled up. It expands in size the more you love.
Preciso dizer mais algo?
Essas foram as exatas palavras que eu ouvi das pessoas no documentário sobre o
"Amor Livre" e "Poliamor". Daqui veio o insight. Quer
dizer, você pode “amar” a quantas pessoas você quiser e os envolvidos na
história, que provavelmente podem não concordar com a situação precisam
aceitar.
Pior: Ela fala de coração.Como pode uma simulação entender o que é um coração, no sentido visceral do órgão? Queremos ser máquinas arrogantes totalmente manipuladas pelo sistema econômico vigente? Continuaremos reproduzindo esses discursos equivocados?
Sigamos.
Pior: Ela fala de coração.Como pode uma simulação entender o que é um coração, no sentido visceral do órgão? Queremos ser máquinas arrogantes totalmente manipuladas pelo sistema econômico vigente? Continuaremos reproduzindo esses discursos equivocados?
Sigamos.
Minhas considerações são:
Pelas características do
filme, pasmem, que é não mostrar a ideia de Poliamor como eu vi em alguns blogs
pela rede. A ideia do filme, para mim fique-se claro, é mostrar a singularidade
daquilo que nos torna humanos e como a evolução tecnológica está modificando
nossas formas de conhecer a nós mesmos, ao outro e ao espaço. No meio do filme
Theodore comenta com os amigos sobre frutas e legumes como se fosse uma coisa
tão distante.. o que para nós ainda não é uma completa realidade. Trata-se de
um futuro em média distante onde provavelmente a computação usa chips orgânicos
para processos quânticos, tal qual a mente humana, e por isso a semelhança humana do
revolucionário O.S. selfcalled Samantha.
Ela conseguia amar a todos.
Ela e somente ela em sua realidade pode fazer trilhões de conexões conscientes
em tempo real simultâneo e simular o emocionear e a conversação na convivência. Apenas
Ela. Uma máquina quântica de cálculos humanamente incalculáveis.
Samantha é deletada.
Provavelmente a empresa que a criou não imaginou a evolução de seu
comportamento frente ao novo poder de processamento. Todos os O.Ses. foram
tirados do ar.
Ao meu ver, existe um
equívoco e um bestial engano que flutua sobre nossas cabeças nessa entrada de
século XXI e eu sinceramente temo as consequências dessa conduta. A conduta de
acharmos ou termos a ilusão de que podemos de alguma forma transpassar os
limites de nossa facticidade em detrimento da quebra dos limites que nos faz
humanos. E é tão chato ser limitado não é verdade? Que droga é essa que morre
rápido e não tem conseguido evoluir? Pois. Acho que todo o discurso de desrespeito
aos direitos e o resto de blá blá blá é retroalimentado por essa perspectiva da
falsa liberdade. Somos assim e temos limites. Não temos capacidade cognitiva de
lidar necessariamente com grandes alterações em nossa estrutura bio-psico-social.
Produzimos esquizofrenias. Somos equivocados. E ainda que tudo isso nos
constitua de algum modo, acredito que caminhamos para nosso próprio fim. Auto
extinção. Certamente a natureza não permitirá que nossos limites tentem ser
quebrados. Somos demasiado humanos.
P.S.: O Amor Livre é um movimento iniciado no seio do Anarquismo cujo principal objetivo era, dentro de cada cultura (o que envolve ambos, monogamia e poligamia), não obedecer às regras impostas pela igreja e pelo sistema jurídico para dar legitimidade à relação amorosa. Em outras palavras, se você quer casar ou namorar com alguém, você é livre pra juntar suas coisas e não precisar passar pelo cartório ou pela igreja para que a união seja oficializada.
Ainda assim faço exercício de humanidade e declaro que nada tenho contra quem mau interpretou o sentido de Amor Livre e , por exemplo, evita até falar que está namorando alguém, como se o verbo "namorar" fosse lhe trazer algum prejuízo psicológico ou qualquer coisa parecida. (está tambem nos blogs relatos de pessoas que não gostam da palavra "namoro" e acusam ser adeptas do "Amor Livre")
Ainda assim faço exercício de humanidade e declaro que nada tenho contra quem mau interpretou o sentido de Amor Livre e , por exemplo, evita até falar que está namorando alguém, como se o verbo "namorar" fosse lhe trazer algum prejuízo psicológico ou qualquer coisa parecida. (está tambem nos blogs relatos de pessoas que não gostam da palavra "namoro" e acusam ser adeptas do "Amor Livre")
Reforço que são considerações pessoais e intransferíveis. Ninguem é obrigado a concordar e que o respeito seja exercitado.
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