Olho
tua foto e minha mente viaja aos dias em que fui apaixonado por você. E esse pronome
solitário, num “bloco do eu sozinho”, escarnece da pureza de meus sentimentos
pela imundície da realidade à que somos impostos. E quando olho tua foto na
verdade olho para dentro de mim mesmo à procura do resto de razão que ficou no
fundo da taça outrora soberba disso que ousei chamar de vontade de amar. E tudo
não passou de uma vontade, na verdade, que pensou ter morrido e agora vaga nos
campos secos que habitam em mim. E o quanto é difícil administrar, eu disse. E todas
as coisas que fizemos juntos em tão pouco tempo permanecerão em mim não sei
exatamente como pois a cada minuto algo de mim se vai para dar lugar a esse
algo de você que nem eu sei exatamente o porquê ainda está aqui. Vai ver é o
jeito, vai ver é o corpo, vai ver é minha teimosia. Ou ainda quem sabe apenas
uma música que não cansa de ser repetida. Da vontade só ficou a lembrança que
se torna vontade de novo numa triste ciranda. Enquanto eu vou querendo entender
eu vou querendo você mesmo sem querer. E toda vez que olho qualquer foto, no
fundo nem sei para onde estou olhando, pois te vejo e não posso te ver pela
impossibilidade de te ter. e todo esse discurso absurdamente apaixonado que
outrora não seria proferido se não fosse essa foto. Não essa, mas essa, quer
dizer, qualquer foto que te arranque o rosto de onde eu coloquei. Sim, a culpa
é minha por ter ousado desejar te amar. E por tantas outras coisas sou culpado
que nem sei. Enquanto isso vou vivendo meu cotidiano e vez ou outra, quem sabe,
olhar uma foto.
Me perdi
de mim mesmo há muito tempo e só agora tenho percebido que o medo do vazio logo
cedo pela manhã nada mais é a falta que eu faço àquilo que eu pensei ter sido
durante anos... uma tristeza profunda que aparentemente não tem motivo e ao
mesmo tempo tem todos os motivos do mundo. A consciência que impregna minha
alma me desarma em qualquer situação. Eu juro que queria ser uma pessoa normal,
como qualquer outra, mas vejo que o destino achou legal me mostrar várias faces
das mesmas coisas. Eu queria ser normal, eu juro. Queria gostar da água do mar
ou até saber nadar. Queria ainda ser menos tímido ou qualquer coisa que facilitasse
minha vida com todas as outras pessoas do mundo. Queria
não ser tão complicado, e tantas outras coisas eu queria...
Hoje eu estou aqui, amanhã
onde estarei?
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