A tristeza maltratou nas bandas
de Limeira. Bem à noitinha já. As coisas poderiam ter sido diferentes mas não
foi assim que ocorreu. A sinceridade, a serenidade e principalmente a seriedade
parecem três primas arrogantes que nunca se falaram e que não se enquadram em qualquer
lugar. Os ensinamentos que há muito me foram passados finalmente estão servindo
para algo. Logo cedo antes de deixar a faculdade, os relâmpagos começaram a
querer aparecer.. Sempre fico encantado com isso. Lá onde eu morava e que é a
minha cidade.. raio era coisa rara e linda de se ver e antes que essa beleza se
esvaia de mim, quero lembrar das coisas simples que nunca deveriam ter deixado
de existirem dentro de nós.
Comi uns 5 pãezinhos de queijo
enquanto falava com minha mãe pelo Skype. Os raios foram aumentando e começou
então a chover. Um momento de introspecção e de pouca importância com o
ambiente externo.. eu só pedia que os raios aumentassem.
Enquanto eu devorava nervosamente
uma melancia sem sementes na beira da janela da suposta cozinha, comecei a
ouvir os trovoes e ver mais relâmpagos e raios.. da sacada da entrada do prédio
a chuva batia de uma maneira que lembrava velhos martelos quebrando brita na
beira da estrada... logo me veio de súbito uma linda e imponente imagem na
cabeça.. fui de forma bruta arrastado pra um momento certo de minha infância
onde ouvira dos adultos que trovoes e raios são na verdade velhos índios na
floresta que jogam enormes pedras pro ar, que chocam-se uns contra as
outras estrondando num clarão de relâmpago e num barulhão de trovão. Percebi
então que ser leve mesmo é se refugiar dentro daquilo de mais belo que existe
dentro de você, porque isso sim, pessoa alguma nesse mundo poderá tocar. Nada nem
ninguém poderá ver ou tocar aquilo que seu coração guardar. Então fiquei alguns
minutos apreciando aquela maravilhosa sensação de ver os velhos índios fazendo
raios para nós, meros mortais. Talvez a vida seja isso mesmo. Tudo disso ou
daquilo que nossa objetividade cotidiana matou. E então vamos redescobrindo aos
poucos o valor de nossas almas. Amo ver raios. Amo ouvir raios.