Que é
isto, sonhar?
Depois
de muito tempo negligenciando com o diário de sonhos, resolvi escrever porque
hoje ele particularmente me chamou a atenção. Vou voltar a escrever mais, mas
ainda não sei se continuo no computador ou definitivamente compro um caderno
onde serão anotados. Bom, daí fui ler um pouco mais sobre sonhos, em alguns
blogs e algo me deixou confuso sobre como as pessoas encaram os sonhos.
O
homem enquanto ser humano, e quando digo “homem” estou me referindo à espécie homo sapiens, nunca foi tão homo ignarus. Sim, ignorante! Nós,
homens, queremos reclamar a condição de humanos sem querer abrir mão da animalidade,
apenas para não arcar de maneira plena com a responsabilidade de ser esse
animal que se reconhece em frente ao espelho e se corresponde com outros na
consciência da convivência cotidiana. Ser esse animal que, enquanto evoluindo
perpetuamente essas e outras habilidades, manipula a matéria alterando a si
mesmo numa velocidade incomum, quando comparado aos outros animais que habitam
esse planeta, modificando assim, por consequência, o espaço em sua volta – e os
limites já ferem os céus e pergunto: qual o tamanho do homem?
Então
temos uma manutenção consciente da animalidade? De certa maneira. Ela de fato
nunca nos deixará porque constituição própria da condição de ser homem. O
problema é a humanidade que esse homem inventou como condição básica para
existir entre homens. Quer dizer, os princípios da ambição irrefletida e luta (loucura)
pela sobrevivência justificam continuarmos atrasado em relação às próprias
coisas que decidimos inventar para dar sentido à nossa existência? E daí estou
falando especificamente da vontade de tirar proveito de tudo, numa animalidade
descomunal, bestial, onde toda reflexão cai por terra. Mas não é esse mesmo
princípio que rege o sistema capitalista de produção? Uma acumulação desenfreada
e esquizofrênica de capital a troco – que irônico, troco – de nada. Mas o que
justifica ainda estar nessa loucura para que as coisas façam sentido? Qual a
origem da necessidade de que algo faça sentido e quais os limites para esse
sentido? Mais direcionado ao que me chamou a atenção nas leituras desses blogs:
por que os sonhos precisam ter um sentido, um significado? Por que eles
precisam “dizer algo”?
Que
desafio! O homem e sua existência ambígua. E na ambiguidade, por quais motivos
ainda não aprendemos a conviver com a dúvida, mesmo que essa seja amansada com
uma outra certeza inventada por nós mesmos, mas que não aniquila outras possibilidades
de ser das coisas, dos fenômenos e, no caso, dos sonhos? Sonhos não significam
qualquer coisa, existencialmente falando. Sonhos não querem dizer algo aqui ou
acolá, sequer querem antecipar qualquer fato. Sonho. Um nome que alude à
surrealidade ou ao sensacional, delusional, para um acontecimento tão potente e
negligenciado. E mesmo que eu me desprenda de umas amarras e me atenha à
outras, não significa que eu possa estar equivocado, no sentido de que isso é o
que eu acredito que sejam os “sonhos”:
Se
acreditamos nos modelos propostos para explicar a composição básica da matéria
e nos conhecimentos antigos quando a ciência ainda não havia destruído o mundo,
podemos tranquilamente perceber que os sonhos, nada mais são do que um breve
contato que temos com uma outra realidade através de nossa consciência, nesse
outro mundo. A existência é múltipla e assim como são infinitas as
possibilidades de ser, infinitas são as possibilidades de universos que podem
coexistir. Não acontece sempre.
Quando sonhamos, estamos compartilhando de
maneira mágica a vivência momentânea de um outro “eu” nosso, em um outro
universo, com outra variedade de fenômenos. Uma frágil conexão totalmente
incompreendida e irrefletida, que lembra algo bem levemente na ideia de entrelaçamento.
Sim, as realidades são entrelaçadas na grande dança cósmica que para nós ainda
é inimaginável e possui dimensões que não nos é possível a compreensão.
Não
há um sentido. Não há um significado. Não há um “quer dizer” isso ou aquilo. É
apenas um frágil segundo de compartilhamento consciente de realidade entre uma
existência qualquer em um universo qualquer, que se rompe assim que
despertamos. Quando somos acordados, somo puxados de maneira brusca para a
realidade onde se basta nossa materialidade original e quando conseguimos
manipular o sonho, na verdade o que conseguimos é uma integração maior com
nossa outra realidade, com nosso outro “eu” e então como não sabemos onde
começa um e termina o outro, porém essencialmente somos-todos-um, pensamos ser
nós mesmos, e mesmo não sendo, não deixamos de ser.
Enquanto
não compreendemos como tal dispositivo funciona, resta-nos ficar maravilhados
com essa experiência magnífica!
"Ah mas foi muito louco, não é possível!" Sim, o é e essas possibilidades são-aí independente de querermos ou não. Mas esquecemos o Ser. O esquecimento do Ser traz o desencantamento do mundo e a triste perda da vida. Esquecer o ser é também não considerar as possibilidades para um sonho. Essa é uma possibilidade.