quando eu era cristão, aprendi muitas
coisas que considero boas por me tornarem uma pessoa melhor. sempre. a principal delas é a de honrar minha
palavra.
se digo, faço. se vejo que não posso,
nem falo. não me iludo, em hipótese alguma, com o fato de ter o mundo aos meus pés
para os outros, quando na verdade não dou conta de nem um terço do que atraí,
contra a vontade do destino, para a minha existência.
não invento desculpas, não digo que
foi uma circunstancialidade a causa da minha subversão.
infelizmente há cristãos que ignoram
todas os aspectos que verdadeiramente fazem alguma diferença para a convivência
em humanidade, em detrimento de futilidades caprichosas vindas apenas dos egos
inflados exercitados cotidianamente , no discurso das entrelinhas da
autogestão.
no fundo, ao fim da análise, há uma
dó, num sentido benevolente. uma dó pela percepção dos sentidos que movimentam
tal alma, esta já sem capacidade de diferenciar entre si e as estratégias
construídas anos a fio. estratégias para atrair pessoas. estratégias para parecer
amigável e íntima. estratégias para usar pessoas e situações a bel prazer, e
gratuitamente cansar delas e descartá-las como se fossem algo desprezível,
repugnante. e qual infortúnio me leva a tecer esse diagnóstico? bom, ainda não
é o momento de concluir este texto. vamos ver como ele se desenrolará, em
vida... vida própria, enquanto se encontra na mão desses cristãos, que escondem
nos fundos das gavetas de seus corações aquele elo de luminescência há muito
subjugado e ignorado pela simples preocupação com a opinião alheia. e aqui é o
ponto mais interessante. o cúmulo da hipocrisia fantasiada de cordialidade. ah,
os sorrisos cordiais.. como são traiçoeiros! antes todo mal fosse um leve
sorriso. o mau que emana dele, como vontade de potência, é algo que não se
justifica. algo que nunca, em hipótese alguma, irá sanar ou aliviar aquela
agonia da criança que nunca conseguiu naturalmente atrair outras crianças para
brincar junto à fonte do pátio da escolinha. com todos os ônus consequentes
dessas observações, o alívio de ser genuinamente humano, em meus prazeres e
sofrimentos, é o que, de fato, me mantém vivo. ao contrário dessa existência
que nada tem, genuinamente, e nada nunca terá pois atrai para si justamente
aqueles que são semelhantes a si mesmo. os opostos então se afastam, tamanho é
o espanto que os atingem quando vislumbram um pequeno lampejo de verdade que desvela o ser da
coisa. coisa esta vagueante à procura de autenticidade, esta tão mal
compreendida e mal interpretada, cuja ambiguidade é tão mortífera, justamente
por não conseguir sintetizar sua vontade para o bom caminhar, que é feito pelo
caminho do meio.
posso não ser cristão, mas não
subverto em hipótese alguma, o que pretendeu o Cristo.
e que todas as coisas
justas me sirvam para ser uma pessoa melhor a cada dia. nunca, em hipótese alguma, subjugando alguém ou subvertendo valores à minha conveniência. pois eu não sou o criador, ou o destino. sou apenas uma ínfima parte de algo que não compreendo necessariamente. e que esse jogo seja mesmo o jôgo do mundo, a dó se volta novamente, pela percepção de que no fundo, não se encolhe ser deste ou daquele jeito, quando somos engrenagens do maquinário desconhecido chamado universo.