Você está deitado. Abre o olho e
observa. Você está respirando. Você está vivo e pode tocar tudo à sua volta. Você levanta e
então a luz bombardeia teus olhos. Os odores impregnam tuas narinas, a existência
se crava em tua alma na consciência de si mesmo e do mundo. Você enfim acorda.
Você precisa comer e se livrar do suor da madrugada então você levanta e se dá
conta também do seu corpo. Coloca uma roupa qualquer e anda até a porta de
saída da casa que não é sua. Daí você se pergunta: O que é meu? Roda a maçaneta
e se prepara para encarar um pedaço de asfalto, três faróis e muitos rostos
desconhecidos e sonolentos. O que são todos esses carros e todas essas pessoas
mal-humoradas? Você segue seu caminho. Pisoteia passeios sagrados com os pés
que outrora macularam seu espírito e segue. Você está vendo, sentindo o vento,
respirando, andando. Você gosta do que vê e abomina outras visões. Você coloca
os fones de ouvido e insistentemente atualiza sua página do facebook. Você se
pega na espera, se surpreende no aguardar e então volta seu olhar à frente.
Tiago Iorc balbucia seu alaúde atraindo do fundo de sua existência àquilo que
você mais temia que aparecesse. Você segue, ouvindo e vendo e andando e respirando
e então você é sugado. Entra em seu santuário e suas obrigações diárias te
trazem de volta à um mundo conhecido, porém esquecido e ignorado durante o
sono. Você insistentemente atualiza sua página do facebook. Você se pega na
espera e cansa. O relógio de hoje brinca com seu coração e perturba a calmaria
de ontem. Você vai novamente pra rua. Você ouve as buzinas e perguntar por que
estão umas chamando as outras? Você se perde. Você se encontra. Você olha em
volta e procura um sentido. Sentido para o céu azul, para a fumaça dos carros,
para seu coração. Você quer entender o que significa tudo ao mesmo tempo que
quer ficar na dúvida pela decepção que pode ser abrigar uma certeza. Você não
consegue entender e levemente se desespera. Você fica insatisfeito e se alegra
novamente. A todo momento você lembra a você mesmo quem você é e o por que de
você estar ali. Os seus eus se conversam e entram num acordo. Você insistentemente
atualiza sua página do facebook. Você se pega na espera.. Está tudo bem, calma!
Você está bem e nada está fora do lugar. Você procura um sentido, ainda assim.
Algo não está certo, você sabe disso. Mas nada está errado, então, o que há?
Você não sabe e decide não querer saber. Você fecha os olhos e segue. Você existe.
Você precisa continuar. Você volta para a casa que não é sua e se pergunta novamente:
o que é meu? Você não sabe exatamente o que fazer depois de se fechar em seu
casulo. Você se livra mais uma vez do suor e deita. Você insistentemente
atualiza sua página do facebook. Você se pega na espera.. Você fecha seus olhos
e sente. Você já não consegue ver e apenas sente. Você vai deixando de se
perguntar, você vai encontrando o sentido. Você deixa de perceber. Você deixa
de existir até que a próxima luz bombardeie novamente seus olhos e o ciclo
eterno se repita.
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