terça-feira, 16 de agosto de 2016 0 comentários

Humanidade simulada


Humano é aquele que alcançou a condição de genuíno cosmopolita, se importando com o que deve ser levado em consideração, valorizando apenas a integridade da pessoa humana, em sua vida e morte, independentemente de qualquer carga cultural ou ideológica, pois estas, quando presentes, são de cunho extremamente individual e não devem necessariamente influenciar a maneira como nos relacionamos com as pessoas.
A não ser que não nos enxerguemos como que fazendo parte, necessariamente, do mesmo mundo que os outros, e temos os valores cosmopolitas completamente ignorados. Logo, uma pessoa sem essas capacidades empáticas está fadada de, desde o estágio de criança, simular uma humanidade superficial para o trato com as pessoas do mundo comum. O problema desta simulação é que ela se transforma em um exercício, que passa a a ser experienciado cotidianamente, transformando este ser, se podemos assim dizer, em algo que não sabemos necessariamente o que é, principalmente por sua falta de capacidade de admissão de coisas, o que inclui comportamentos e sistema de crenças, tomadas de partido e, principalmente da ideia que se faz de outras pessoas. Podemos então, experienciar uma completa incapacidade de lidar com o mundo e com a vida, o que joga este tipo de humano no campo da di-simulação, ou seja, na capacidade de simular mundos de maneira distinta ao mesmo tempo, oscilando entre o dito e o contradito, o que lhe permite manipular a realidade que lhe é tangente, assim como outras pessoas de maneira peculiar, dada a grande atratividade que este tipo de conduta exerce sobre as pessoas autênticas e humanas. Talvez a característica que mais preocupa a existência deste tipo de capacidade di-simulativa, seja a falta de autorreflexão somada à premissa de que não há ação errada de sua parte, causando um envenenamento através da vontade. E como poderíamos esquecer do jeitinho de deixar a vida leva? Fala-se sempre de tudo, menos do que precisa ser falado. Descarta pessoas quando estas não lhes interessa mais e diz ser contra a superficialidade das relações. Humanos simuladores tem um grande ímpeto de vontade, o que lhe proporciona uma plasticidade, para não dizer escorregadez, invejável, tamanha são as artimanhas praticadas e proferidas para fazer valer suas ações e palavras, mesmo quando estão quase que totalmente incongruentes com o meio onde acontece a jogada. Não podemos esquecer jamais de um último detalhe, e talvez seja este o que justamente denuncia este tipo de ação no mundo; a capacidade de dobrar existências. Como sua existência é não-satisfatória, quando pensamos em todos os artifícios necessários para que este ser esteja mais ou menos bem, em sociedade, verificamos uma espécie de violência da mais vil, quando consegue atribuir a outrem aquilo mesmo que é ou está em si, se eximindo da responsabilidade ético-sensível de suas ações, atribuindo a tudo que não é si mesmo, a responsabilidade, vulgo culpa, por isto ou aquilo ter ou não acontecido.

Enquanto o tempo passa, nós vamos observando.. e enquanto experienciamos esse tipo de pessoa, vamos cuidando para não sermos absorvidos por este tipo de conduta. Para não replicar este comportamento. Porque no fundo não precisamos dele. Infelizmente, simular a humanidade é algo tão inumado que não cabe em si de contraditoriedade. 
quarta-feira, 20 de julho de 2016 0 comentários

uma questão de ser..



quando eu era cristão, aprendi muitas coisas que considero boas por me tornarem uma pessoa melhor. sempre. a principal delas é a de honrar minha palavra.
se digo, faço. se vejo que não posso, nem falo. não me iludo, em hipótese alguma, com o fato de ter o mundo aos meus pés para os outros, quando na verdade não dou conta de nem um terço do que atraí, contra a vontade do destino, para a minha existência.
não invento desculpas, não digo que foi uma circunstancialidade a causa da minha subversão.
infelizmente há cristãos que ignoram todas os aspectos que verdadeiramente fazem alguma diferença para a convivência em humanidade, em detrimento de futilidades caprichosas vindas apenas dos egos inflados exercitados cotidianamente , no discurso das entrelinhas da autogestão.
no fundo, ao fim da análise, há uma dó, num sentido benevolente. uma dó pela percepção dos sentidos que movimentam tal alma, esta já sem capacidade de diferenciar entre si e as estratégias construídas anos a fio. estratégias para atrair pessoas. estratégias para parecer amigável e íntima. estratégias para usar pessoas e situações a bel prazer, e gratuitamente cansar delas e descartá-las como se fossem algo desprezível, repugnante. e qual infortúnio me leva a tecer esse diagnóstico? bom, ainda não é o momento de concluir este texto. vamos ver como ele se desenrolará, em vida... vida própria, enquanto se encontra na mão desses cristãos, que escondem nos fundos das gavetas de seus corações aquele elo de luminescência há muito subjugado e ignorado pela simples preocupação com a opinião alheia. e aqui é o ponto mais interessante. o cúmulo da hipocrisia fantasiada de cordialidade. ah, os sorrisos cordiais.. como são traiçoeiros! antes todo mal fosse um leve sorriso. o mau que emana dele, como vontade de potência, é algo que não se justifica. algo que nunca, em hipótese alguma, irá sanar ou aliviar aquela agonia da criança que nunca conseguiu naturalmente atrair outras crianças para brincar junto à fonte do pátio da escolinha. com todos os ônus consequentes dessas observações, o alívio de ser genuinamente humano, em meus prazeres e sofrimentos, é o que, de fato, me mantém vivo. ao contrário dessa existência que nada tem, genuinamente, e nada nunca terá pois atrai para si justamente aqueles que são semelhantes a si mesmo. os opostos então se afastam, tamanho é o espanto que os atingem quando vislumbram um pequeno lampejo de verdade que desvela o ser da coisa. coisa esta vagueante à procura de autenticidade, esta tão mal compreendida e mal interpretada, cuja ambiguidade é tão mortífera, justamente por não conseguir sintetizar sua vontade para o bom caminhar, que é feito pelo caminho do meio.
posso não ser cristão, mas não subverto em hipótese alguma, o que pretendeu o Cristo. 
e que todas as coisas justas me sirvam para ser uma pessoa melhor a cada dia. nunca, em hipótese alguma, subjugando alguém ou subvertendo valores à minha conveniência. pois eu não sou o criador, ou o destino. sou apenas uma ínfima parte de algo que não compreendo necessariamente. e que esse jogo seja mesmo o jôgo do mundo, a dó se volta novamente, pela percepção de que no fundo, não se encolhe ser deste ou daquele jeito, quando somos engrenagens do maquinário desconhecido chamado universo.



sábado, 16 de abril de 2016 0 comentários

batalha silenciosa



lágrimas nos olhos,
espada ao punho,
escudo à fronte,
grito mudo,
revolta viva,
impotência,
e o ínfimo do ser entregue
à grandeza do universo.

*** 
haverá suficiente lã
que nos permita continuar fiando
o manto da existência?
quarta-feira, 6 de abril de 2016 0 comentários

eremita utópico


um passo atrás, dois passos à frente. e caminhando, tenho sempre muito cuidado para não ser seduzido pela soberba. e a soberba de ser bom revela o mau em mim. mau que eu nego, e que sou, mesmo que não queira. e continua vindo à mim, de qualquer maneira... e nego o mundo para que eu me aceite, e me aceito na negação do outro, que é o mesmo eu, de outro lugar de ver. e mais uma vez eu nego à maldade em mim, 
negando-me. e cambaleio lá e cá no jôgo do mundo, nessa ínfima existência que chamaram de humana. __ que somos nós, que não eremitas? eremitas utópicos do utópico século XXI que a tudo atropela a tudo massacra e a tudo nega, fazendo eu negar a você, que sou eu ao mesmo tempo que é o mundo, em seu jôgo e entregue a si mesmo. __ caminhar é preciso, é utópico. caminhando vamos, caminhando voltamos caminhando estamos, caminhando na seara do destino. um passo atrás, dois passos à frente, para trás não podemos olhar.
caminhemos,
vamos,
caminhar
 
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